Recentemente foi divulgado um novo estudo realizado por pesquisadores europeus, principalmente, alemães e noruegueses, que sugere que o tipo sanguíneo pode desempenhar um papel fundamental na determinação de quem contrai o vírus e qual o curso que a doença pode tomar, ou seja, a gravidade dela. A nova pesquisa foi publicada no New England Journal of Medicine (NEJM). O vírus SARS-CoV-2 tem apresentado efeitos diversos na população global, assim, os que tem se mostrado mais vulneráveis são os idosos e pacientes com comorbidades como doenças cardiovasculares, diabetes e doenças pulmonares. Devido à significativa morbimortalidade associada ao COVID-19, continua aumentando o interesse em obter dados que consigam detalhar características que possam tornar aos indivíduos mais suscetíveis à infecção como também determinar fatores de risco que possam estar associados com a progressão e a severidade da doença.
Na Europa, Itália e Espanha foram severamente afetadas desde o início da pandemia, com picos epidêmicos a partir de fevereiro de 2020 e 61.507 mortes relatadas até o 15 de junho de 2020. O estudo coloca que as taxas de mortalidade são impulsionadas predominantemente pelo subgrupo de pacientes com insuficiência respiratória grave relacionados à pneumonia intersticial nos pulmões e à síndrome do desconforto respiratório agudo. O quadro grave com insuficiência respiratória requer suporte precoce e prolongado por ventilação mecânica. No relatório do NEJM se indica que foi realizado um estudo de associação genômica ampla (GWAS no inglês) com o intuito de determinar fatores genéticos do hospedeiro que poderiam contribuir para a evolução do COVID-19 a formas graves com insuficiência respiratória. Para isso, foram recrutados mais de 1900 pacientes com COVID-19 grave, definida pela hospitalização por insuficiência respiratória e um teste confirmado de reação em cadeia da polimerase-RNA viral de SARS-CoV-2 a partir de swabs nasofaríngeos principalmente, unidades de terapia intensiva e enfermarias gerais em sete hospitais em quatro cidades dos epicentros da pandemia na Itália e na Espanha. Após o controle e a exclusão de valores discrepantes (outliers) da população, foram parte do estudo 835 pacientes e 1255 participantes controle da Itália e 775 pacientes e 950 participantes controle da Espanha. “Foi confirmado que o grupo sanguíneo O está associado a um risco menor de adquirir COVID-19 ao dos grupos sanguíneos não O, enquanto o grupo sanguíneo A foi associado a um risco maior que os grupos sanguíneos não A. Os mecanismos biológicos subjacentes a esses achados podem ter a ver com o grupo ABO per se (por exemplo, com o desenvolvimento de anticorpos neutralizantes contra N-glicanos ligados a proteínas) ou com outros efeitos biológicos da variante identificada, incluindo a estabilização fator de von Willebrand” aponta o estudo como um dos principais resultados. Além de encontrar um potencial vínculo entre o tipo sanguíneo e a vulnerabilidade à COVID-19, os autores do estudo detectaram um novo locus de suscetibilidade em um agrupamento de genes do cromossomo 3p21.31, uma vez que o sinal de pico de associação abrangeu um cluster de seis genes (SLC6A20, LZTFL1, CCR9, FYCO1, CXCR6 e XCR1), vários dos quais têm funções especialmente relevantes para o COVID-19, porém, são necessários estudos adicionais para explicar as conexões com o tipo sanguíneo e como poderiam interferir no curso da doença. Com base nos dados iniciais e apesar do reduzido tamanho da amostra, o estudo corrobora outros relatórios, incluindo um de Wuhan, China, onde se originou o surto do vírus SARS-CoV-2. No entanto, as limitações inerentes ao estudo do NEJM significam que ainda é cedo para vincular definitivamente o tipo sanguíneo à suscetibilidade e ao curso do COVID-19. Artigo do NEJM: Genomewide Association Study of Severe Covid-19 with Respiratory Failure (https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2020283). Artigo de Wuhan: Association between ABO blood groups and risk of SARS‐CoV‐2 pneumonia (https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/bjh.16797).
0 Comentários
Enviar uma resposta. |
AutorEscreva algo sobre si mesmo. Não precisa ser extravagante, apenas uma visão geral. Histórico
Novembro 2020
Categorias |