Hora da genética!
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De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o Transtorno Depressivo Maior (TDM) caracteriza-se por um quadro de humor deprimido ou perda de interesse ou prazer em quase todas as atividades na maior parte do dia por um período de pelo menos duas semanas (embora a maioria dos episódios dure um tempo consideravelmente maior). Envolve ainda alterações nítidas no afeto, na cognição e em funções neurovegetativas e remissões interepisódicas. O diagnóstico baseado em um único episódio é possível, embora o transtorno seja recorrente na maioria dos casos. Além disso, esses sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. No contexto clínico, o termo depressão não se refere somente a um humor deprimido, mas sim a um complexo sindrômico caracterizado por alterações de humor, de psicomotricidade e por uma variedade de distúrbios somáticos e neurovegetativos (Assumpção-Junior, 1998).
Ainda segundo o DSM-V, esse transtorno apresenta-se pela primeira vez em qualquer idade, mas a probabilidade de início aumenta sensivelmente no início da adolescência e afeta cerca de 7% da população em geral com acentuadas diferenças por faixa etária, sendo que a prevalência em indivíduos de 18 a 29 anos é três vezes maior do que em indivíduos acima dos 60 anos. O acometimento do sexo feminino é 1,5 a 3 vezes mais altos do que as do masculino. No Brasil, a incidência do diagnóstico de depressão cresceu 40% entre o período pré-pandemia e o primeiro trimestre de 2022, segundo o levantamento Covitel, realizado pela Vital Strategies, organização global de saúde pública, e pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas). Fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais participam da gênese das depressões. Nesse texto trataremos da influência genética sobre o TDM, na qual, já no século XIX, observações realizadas por psiquiatras europeus indicavam que esse distúrbio afetivo parecia se concentrar mais em determinadas famílias, o que desde então tem impulsionado muitos estudiosos a demonstrar a existência de um componente genético para o TDM. Atualmente, sabe-se que a herdabilidade genética é de aproximadamente 40%. No final do século passado na Suécia, Perris e Angst (1966) citados por Lafer e Vallada Filho (1999) mostraram que o risco para transtornos depressivos de parentes de primeiro grau de indivíduos afetados é três vezes maior quando comparados a parentes de primeiro grau de indivíduos não afetados. Quando se comparam gêmeos monozigóticos (MZ) e dizigóticos (DZ), estudos europeus como o de Bertelsen et al na Dinamarca em que avaliou-se 123 pares de gêmeos, os quais um dos irmãos já havia sido diagnosticado com TDM, foi observado que entre os gêmeos MZ 64% também desenvolviam o transtorno no outro irmão, enquanto que nos DZ 24% dos irmãos o desenvolviam. Outro estudo realizado também na Dinamarca por Wender et al investigaram uma amostra de 71 adotados afetados por transtornos do humor e relataram uma prevalência oito vezes maior em casos de depressão unipolar e quinze vezes maior em casos de suicídio nos pais biológicos desses indivíduos, quando comparados a seus pais adotivos. Em relação ao tratamento, muitos estudos já foram realizados a fim de tentar identificar quais as melhores terapias para a depressão. Segundo Cuijpers (2010), a conclusão mais aceita é que a combinação de psicoterapia com medicação é a melhor estratégia, sendo um pouco superior à psicoterapia isolada. Entre as psicoterapias, não há diferenças significativas entre diversas modalidades estudadas, existindo evidência de que as principais linhas, como a terapia cognitivo-comportamental, as terapias de terceira onda e terapias de orientação psicodinâmica são igualmente efetivas. No entanto, segundo Stahl (1998) apenas 2 em cada 3 pacientes respondem aos antidepressivos disponíveis. Lediana Pereira Cardoso Discente de Medicina da UNILA REFERÊNCIAS -LAFER, Beny; VALLADA FILHO, Homero Pinto. Genética e fisiopatologia dos transtornos depressivos. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 21, p. 12-17, 1999. -CADORET, Remi J. Evidence for genetic inheritance of primary affective disorder in adoptees. The American Journal of Psychiatry, 1978. -WENDER, Paul H. et al. Psychiatric disorders in the biological and adoptive families of adopted individuals with affective disorders. Archives of general psychiatry, v. 43, n. 10, p. 923-929, 1986. -BERTELSEN, Aksel; HARVALD, Bent; HAUGE, Mogens. A Danish twin study of manic-depressive disorders. The British Journal of Psychiatry, v. 130, n. 4, p. 330-351, 1977. -CUIJPERS, P. et al. The contribution of active medication to combined treatments of psychotherapy and pharmacotherapy for adult depression: a meta‐analysis. Acta Psychiatrica Scandinavica, v. 121, n. 6, p. 415-423, 2010. -STRATEGIES, Vital. Pesquisa inédita mostra os impactos negativos da pandemia na saúde da população brasileira. 2022. Disponível em: https://www.vitalstrategies.org/pesquisa-inedita-mostra-os-impactos-negativos-da-pandemia-na-saude-da-populacao-brasileira/. Acesso em: 18 ago. 2022. -STAHL, Stephen. Psicofarmacologia: bases neurocientíficas e aplicações clínicas. Rio de Janeiro: Médica e Científica Ltda, 1998. -ASSUMPÇÃO-JUNIOR, F. B. Tristeza e depressão: diagnóstico diferencial. Pediatria Moderna, v. 34, n. 3, p. 126-30, 1998.
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Maio 2022
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