Hora da genética!
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A pesquisa com gêmeos tem sido muito útil na história da genética, particularmente na epigenética, quando queremos saber qual é a participação do componente genético e qual é a participação dos fatores ambientais na determinação de algumas características, sejam elas multifatoriais ou não, tais como: altura, impressões digitais, QI, doenças, comportamento humano, etc. Os experimentos realizados variam de propósito, dos quais três se destacam: ●Estudar a herança genética, aqui a população de gêmeos é útil para estudar como os genes influenciam o desenvolvimento e o comportamento, pois os gêmeos compartilham um grande número de características genéticas. ● Investigar os distúrbios genéticos, como eles afetam o desenvolvimento e a saúde. ●Descobrir novos tratamentos médicos: e avaliar seus efeitos, pois eles podem fornecer uma comparação " interna" de como diferentes tratamentos afetam indivíduos com genomas muito semelhantes. Agora você conhecerá sobre alguns estudos genéticos em gêmeos, fatos interessantes e algumas controvérsias: 1. Estudos de desenvolvimento e comportamento humano. Podemos mencionar algumas experiências de longo prazo:
Primeiro, as diversas pesquisas conduzidas pela Universidade da Virgínia, onde avaliaram gêmeos monozigóticos (identicos) e dizigóticos (não idênticos). O objetivo é examinar como os genes e o meio ambiente influenciam em dimensões de personalidade e atitudes sociais. Em segundo lugar, na pesquisa conhecida como "The Minnesota Twins Study" (O Estudo dos Gêmeos de Minnesota) começou em 1979. O Dr. Thomas Bouchard e sua equipe na Universidade de Minnesota estudaram gêmeos monozigóticos e dizigóticos. Como resultados encontraram muitas semelhanças entre indivíduos que eram gêmeos, mesmo aqueles que não haviam sido criados na mesma casa, o que poderia ser devido em parte a fatores genéticos. Como o caso dos gêmeos Gerald Levey e Mark Newman que cresceram separados sem se conhecerem, mas compartilharam muitos hábitos, expressões e atitudes, gostos alimentares, protótipo feminino, área de trabalho e voluntariado, hobbies, até mesmo o tipo de óculos, estilo de barba e patilhas. Algumas destas pesquisas ainda estão em andamento. Nancy L. Segal é uma pesquisadora e professora de psicologia da California State University. Ela é especializada em psicologia do desenvolvimento e tem realizado pesquisas sobre gêmeos separados e outros assuntos relacionados ao fisico, comportamento e desenvolvimento humano por muitos anos. Seu trabalho tem sido publicado em várias revistas científicas e ela também é autora de vários livros. "Twins Reared Apart and Twins in Families: The Findings Behind the Fascination" ("Gêmeos separados e Gêmeos em Famílias: As descobertas por trás da fascinação"), realizada por Nancy L. Segal em 2018. Neste estudo e similares, os pesquisadores compararam gêmeos monozigóticos e dizigóticos que foram separados ao nascer, gêmeos trocados no nascimento e criados em famílias diferentes. Eles descobriram que os gêmeos monozigóticos eram mais parecidos em termos de personalidade e comportamento do que os gêmeos dizigóticos, o que sugere que a genética pode influenciar o comportamento humano. Além disso, os pesquisadores afirmam que o ambiente também gera um impacto significativo no comportamento e na personalidade dos gêmeos. Para saber mais sobre as semelhanças entre esses gêmeos, você pode assistir à palestra da Dra. Segal no TEDx: https://www.youtube.com/watch?v=c2__1Jrcpv4&t=702s 2. Josef Mengele e os gêmeos de Auschwitz O Dr. Josef Mengele foi um médico alemão que conduziu experimentos durante a Segunda Guerra Mundial no campo de concentração de Auschwitz. Mengele teve um interesse especial por gêmeos e conduziu uma série de experimentos com eles, por causa de sua raridade e pela crença de que eles poderiam fornecer informações valiosas sobre genética e desenvolvimento. Entretanto, seus experimentos foram condenados por falta de consentimento informado, falta de anestesia e tratamento desumano de sujeitos de pesquisa. Muitos desses experimentos foram considerados cruéis e antiéticos que foram condenados pela comunidade científica internacional. Assim, ele ficou conhecido como o Anjo da Morte (em alemão Todesengel). Os experimentos de Mengele são um exemplo de como a má conduta na pesquisa pode ter conseqüências devastadoras. É importante observar que qualquer experimento genético deve ser conduzido de maneira ética e que devem ser tomadas medidas para proteger os direitos e o bem-estar dos sujeitos da pesquisa. 3. Cândido Godói: a capital mundial dos gêmeos Cândido Godói é uma cidade do sul do Brasil que tem sido conhecida por ter uma taxa relativamente alta de gêmeos. Especulou-se que isto poderia ser devido a fatores genéticos e a uma alta taxa de fertilidade na região. Alguns pesquisadores acreditam que a hipótese de um efeito fundador genético, que ocorreu durante a colonização de Cândido Godói, podería ser uma explicação alternativa válida para a alta prevalência de nascimentos gêmeos. Outro estudo, “High twinning rate in Cândido Godói: a new role for p53 in human fertility” (“Alta taxa de geminação em Cândido Godói: um novo papel para a p53 na fertilidade humana”), sugere que a proteína p53 pode desempenhar um papel após a implantação, aumentando a chance de uma gravidez dupla. Porém, é importante lembrar que a taxa de gêmeos é um fenômeno complexo que é determinado por uma série de fatores, incluindo fatores genéticos e ambientais. Portanto, é difícil determinar com certeza porque há mais gêmeos em Cândido Godói ou em qualquer outra área. 4. Gêmeos da NASA A NASA realizou alguns experimentos genéticos com gêmeos como parte de suas pesquisas sobre o espaço e a saúde do astronauta. Um exemplo notável disto foi o projeto "One-Year Mission" ("Missão de um ano"), no qual um par de gêmeos monozigóticos, os astronautas Scott e Mark Kelly participaram. Scott passou um ano na Estação Espacial Internacional e Mark permaneceu na Terra. Durante a missão, foi realizada uma série de testes e medições para examinar como o tempo prolongado no espaço afetou a saúde física e mental de Scott e compararam essas mudanças com as de seu irmão gêmeo Mark. No artigo de Garrett-Bakelman e colaboradores (2019), “The NASA Twins Study: A multidimensional analysis of a year-long human spaceflight” (“O Estudo dos Gêmeos da NASA: Uma análise multidimensional de um vôo espacial humano com duração de um ano”), várias alterações em Scott são mencionadas: no comprimento dos telômeros, regulação gênica, composição do microbioma intestinal, peso corporal, dimensões da artéria carótida, etc. Seis meses após o retorno à Terra, a maioria dos níveis chegaram próximos aos de antes do voo. No entanto, o aumento número de telômeros curtos foi observado, a expressão de alguns genes ainda foi interrompida e uma diminuição na velocidade e precisão da cognição de Scott, além de outros riscos à saúde relacionados ao estresse de retorno à Terra. Desse modo, os resultados deste experimento proporcionaram importantes insights sobre como o tempo prolongado no espaço pode afetar a saúde humana e ajudaram a NASA a desenvolver estratégias para proteger a saúde dos astronautas durante missões prolongadas. 5. As gêmeas editadas com CRISPR O experimento com as gêmeas editadas pelo CRISPR é um caso bem conhecido de experimentação genética controversa que ocorreu na China em 2018. Algumas pessoas têm uma mutação no gene CCR5 que lhes permite ser resistentes ao HIV. Esta mutação é rara, mas pensa-se que protege algumas pessoas de contrair o HIV. E se tal mutação pudesse ser induzida em outros seres humanos? He Jiankui, o pesquisador que conduziu o experimento, usou a técnica de edição de genes CRISPR para modificar os genes das gêmeas quando apenas eram embriões em estágio inicial, gerando alterações que podem ser hereditárias. O objetivo do Dr. He era incapacitar co-receptor chave CCR5 em glóbulos brancos, que se acredita ser essencial para que o HIV entre em células humanas. Ao modificar o gene CCR5, o Dr. He esperava tornar os fetos mais resistentes ao vírus da AIDS, e assim proteger as duas meninas, chamadas Lulu e Nana. A pesquisa foi amplamente condenada pela comunidade científica internacional devido à falta de ética e de informação sobre os possíveis efeitos a longo prazo da edição de genes. É importante ter em mente que a edição de genes é uma tecnologia emergente e muito ainda é desconhecido sobre seus potenciais efeitos a longo prazo e como ela deve ser usada de forma responsável. Portanto, é essencial que uma pesquisa rigorosa e ética seja conduzida antes que esta tecnologia seja utilizada em humanos e que medidas sejam tomadas para proteger os direitos e o bem-estar dos sujeitos da pesquisa. Autora: Viviana López Colorado Tecnóloga em Saneamento Ambiental - U.D.F.J.C. Estudante de Biotecnologia - UNILA REFERÊNCIAS Afifi, T. O., Asmundson, G. J., Taylor, S., & Jang, K. L. (2010). The role of genes and environment on trauma exposure and posttraumatic stress disorder symptoms: a review of twin studies. Clinical psychology review, 30(1), 101–112. https://doi.org/10.1016/j.cpr.2009.10.002 Beirais, L., Heath, A., Martin, N., Maes, H., Neale, M., Kendler, K., . . . Corey, L. (1999). Comparando a herança biológica e cultural da personalidade e as atitudes sociais no estudo Virginia 30 000 de gêmeos e seus parentes. Pesquisa Gêmea, 2(2), 62-80. DOI:10.1375/twin.2.2.62 Bouchard, T. J., Lykken, D. T., McGue, M., Segal, N. L., & Tellegen, A. (1990). 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AutorEscreva algo sobre si mesmo. Não precisa ser extravagante, apenas uma visão geral. Histórico
Maio 2022
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