Hora da genética!
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A DP foi descrita pela primeira vez pelo patologista holandês Johannes Cassianus Pompe em 1932, que identificou em uma criança de sete meses uma cardiomiopatia hipertrófica que até então era considerada idiopática. Foi até 1963 que outros cientistas descreveram a enzima ácido alfa-1-4-glicosidade dentro dos lisossomos e conseguiram relacionar esse achado com a DP. A Doença de Pompe ou Glicogenose tipo II é uma doença genética rara e frequentemente fatal nas formas da doença mais graves. É uma doença autossômica recessiva que se caracteriza pelo depósito lisossomal de glicogênio, que é causada pela deficiência da enzima alfa glicosidade acida ou GAA. As variantes mais agressivas da doença são causadas por defeitos no cromossomo 17q25. A inatividade ou deficiência na produção de alfa glicosidade acida (maltase ácida) leva ao acúmulo de glicogênio dentro do lisossomo e do citoplasma dos tecidos, sendo os mais acometidos: a musculatura lisa, esquelética e cardíaca. O acúmulo do glicogênio danifica o funcionamento normal das células e pode chegar a destruí-las pela hipertrofia e rutura dos lisossomos.
A caracterização do envolvimento musculoesquelético na DP se dá por fraqueza progressiva que conduz a uma diminuição da função motora, alteração das tendências posturais e do posicionamento, e o uso de padrões compensatórios do movimento, que podem levar a deficiências musculoesqueléticas secundárias, tais como contratura, deformidade, osteoporose, além de outros comprometimentos secundários. A incidência da DP estimada é 1/40.000, sendo maior em afro-americanos e chineses. No Brasil, em torno de 106 pacientes encontram-se em tratamento para DP. Como se classifica? Pode ser classificada em grupos A, B, C e D de acordo com a idade do início dos sintomas, problemas cardíacos associados e a velocidade de progressão da doença. O grupo A, é caracterizado pelo início dos sintomas antes dos 12 meses de idade, sendo possível ainda a apresentação intrauterina, mas comumente iniciada em média aos 2 meses de idade. Além do início da doença, os pacientes apresentam cardiomiopatia hipertrófica que afeta principalmente a parede ventricular esquerda do coração. Esta primeira forma de apresentação da doença é causada pela deficiência completa da alfa glicosidade ácida e é associada a sintomas mais graves, sendo que sem o tratamento adequado e precoce a taxa de mortalidade é alta nos primeiros 12 meses de vida. O grupo B também se caracteriza pelo começo dos sintomas antes dos 12 meses de idade, porém não apresentam cardiomiopatia, sendo classificados como DP infantil “atípico”. Os grupos A e B são comumente denominados Doença de Pompe precoce. O grupo C tem início dos sintomas após os 12 meses de idade, mas sendo ainda apresentada na infância e o grupo D, são as manifestações de início nos adultos, ambos os grupos evoluem mais devagar e as características clínicas mais recorrentes são miopatias, ausência de cardiomiopatia hipertrófica e insuficiência respiratória crônica, fraqueza muscular proximal, ptose palpebral e espinha rígida. Aos grupos C e D se denominam Doença de Pompe tardia. Como se faz o diagnóstico? A confirmação do diagnostico deve envolver exames bioquímicos e/ou genéticos que devem ser realizados quando o médico tiver suspeita clínica. Dentre os critérios de suspeita clínica de DP precoce, devem ser apresentadas pelo menos um dos seguintes sintomas:
E para a suspeita clínica de DP tardia os pacientes devem apresentar pelo menos uma das seguintes características:
Dentro os exames para o diagnostico da DP, temos o teste da atividade da alfa glicosidade ácida, porém o resultado deve ser confirmado por meio da medida da enzima em outros tecidos, já que a sensibilidade do teste depende muito do método utilizado e das condições de armazenamento das amostras. A cultura de fibroblastos da pele e considerado o padrão ouro no diagnóstico. O teste genético que analisa o gene GAA nem sempre é necessário, mas é indicado em situações em que por exemplo, o médico tem suspeita da doença, mas os níveis de enzimas alfa glicosidade estão normais, além de ser útil na investigação de outros familiares de uma pessoa já diagnosticada com a doença. Existe tratamento? Os recentes avanços da produção de enzimas humanas recombinantes têm permitido a introdução da Terapia de reposição de enzimas (TRE) para a deficiência monogênica de alfa glicosidade. Esta terapia tem apresentado bons resultados, com a reduções dos níveis de glicogênio nos músculos dos pacientes afetados, melhora da morfologia das células miociticas, e restauração da força muscular, e reduzindo a mortalidade. Além do tratamento com a TRE, existem tratamentos de suporte que podem ser oferecidos aos pacientes independentemente do estágio da doença ou a idade. Dentre elas estão as sessões de fisioterapia motora, que ajudam a corrigir a postura do tronco e dos membros e a prevenir complicações osteomioarticulares; e para a diminuição de problemas respiratórios severos, é recomendável a imunização com vacinas da influenza e doença pneumocócica. Finalmente, é importante que o diagnostico da doença seja o mais precocemente possível, pela grande quantidade de problemas e o aumento da mortalidade em paciente que são diagnosticados em fases tardias. No Brasil ainda ocorrem diagnósticos em estágios avançados da doença, pelo que é importante conhecer sobre os sinais e sintomas característicos e investigar qualquer suspeita da doença seguindo os protocolos do Ministério da Saúde. Catherine Molina Discente de Medicina da UNILA Referências - MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da Doença de Pompe. Brasília, 2021. Disponível em: http://conitec.gov.br/images/Protocolos/Publicacoes_MS/PCDT_Doenca_de_Pompe_Final_ISBN.pdf -DA SILVA, S., SANTOS, P. Doença de Pompe: Manejo fisioterapêutico. Revista Paraense de Medicina V.29(3) julho-setembro 2015. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/0101-5907/2015/v29n3/a5610.pdf - Leslie N, Bailey L. Pumpe Diseases. Editorial GeneReviews. Seattle (WA): Universidade de Washington; 2022. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1261/ - MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria conjunta nº 12, de 03 de agosto de 2020. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/protocolos-clinicos-e-diretrizes-terapeuticas-pcdt/arquivos/2020/portaria-conjunta-pcdt-doena-de-pompe10-08-2020.pdf
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AutorEscreva algo sobre si mesmo. Não precisa ser extravagante, apenas uma visão geral. Histórico
Maio 2022
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