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A Síndrome de Angelman (AS) e a Síndrome de Prader-Willi (SPW) são doenças de origem genética, causadas por microdeleções no braço longo do cromossomo 15, mais especificamente na região 15q11-q13. No entanto, se a deleção nesta região ocorrer no cromossomo de origem materna, desenvolve-se AS, já se a deleção ocorrer no cromossomo de origem paterna, desenvolve-se SPW. E por essa razão, são chamadas de síndromes irmãs. Ambas foram as primeiras doenças relacionadas com o imprinting genômico – um fenômeno epigenético que inativa genes, induzindo a expressão de apenas um dos dois cromossomos parentais. Visto que, o perfil da inativação é preservado através das gerações, mutações em genes influenciados pelo imprinting desenvolvem fenótipos completamente diferentes, de acordo com a origem paterna ou materna da mutação.
A Síndrome de Angelman é caracterizada por retardo mental severo, incapacidade de falar, desenvolvimento motor comprometido e o mais característico da doença é o comportamento de rirem excessivamente, independente de um estímulo alegre, quase como um reflexo. Sua incidência varia de 1/10000 a 1/40000 nascimentos. A gestação costuma ser normal e o desenvolvimento inicial indistinguível de outros bebês saudáveis, sendo que somente a partir dos 6 meses que se começa a perceber atraso no seu desenvolvimento. Mas, ainda assim, a idade média para o diagnóstico gira em torno dos 6 anos de idade. A idade mental desses indivíduos é equivalente à um bebê de 12 a 30 meses, mas, sob cuidados, a expectativa de vida é normal. Pode-se, portanto, distinguir alterações gênicas relacionadas ao gene UBE3A presente na região 15q11-q13. Nos neurônios, este gene codifica uma proteína responsável por sua função e plasticidade, sendo que nessas células, as pessoas dependem apenas da expressão do alelo herdado da mãe, já nos outros tecidos a expressão desse gene ocorre de forma bialélica. Logo, partindo do pressuposto que o gene paterno foi imprintado, desenvolve-se Angelman quando ocorrem: mutações no gene UBE3A, alterando o quadro de leitura; deleção nessa região, não havendo gene funcional para a codificação da proteína; dissomia uniparental do cromossomo paterno, ou seja, duas cópias do cromossomo 15 vindas do pai, e nenhuma da mãe; mutações no padrão de metilação do cromossomo 15 materno advindas de alterações no centro de imprinting, resultando em um padrão como se fosse o imprinting de dois cromossomos de origem paterna. A Síndrome de Prader-Willi é considerada uma síndrome neurogenética que causa hipotonia, atraso no desenvolvimento psicomotor, obesidade mórbida, hipogonadismo, criptorquidia, sendo característica as anormalidades endocrinológicas pela insuficiência hipotalâmica e hipofisária. Sua incidência é de 1/10000 a 1/15000 nascimentos. A doença pode ser diagnosticada por volta da oitava semana de vida, no entanto, a média para o diagnóstico é em torno dos 3,9 anos de idade. São três os mecanismos genéticos que podem levar ao desenvolvimento de SPW: deleção paterna na região 15q11-q13; dissomia uniparental materna do cromossomo 15; padrão anormal de metilação e expressão gênica. Ambas as doenças são diagnosticadas, para além da clínica do paciente, por exames genéticos e moleculares tais como: PCR sensível à metilação; MLPA (Amplificação Multiplex de Sondas Dependente de Ligação) para detectar deleções na região de interesse; FISH (Fluorescent In Situ Hybridization) para mapear o gene de interesse. Dessa forma, é importante ressaltar que diagnóstico precoce e o aconselhamento genético se faz fundamental para a conduta médica e familiar, a fim de favorecer uma maior expectativa de vida e bem-estar das pessoas acometidas por essas doenças. REFERÊNCIAS COUTO, F. F. S. et al. Imprinting: Genes de pai e mãe não são igualmente expressos – implicações para doenças genéticas e síndromes irmãs. Revista de Medicina e Saúde de Brasília, v. 3, n. 2, p. 173-184, 2014. FRIDMAN, C.; KIFFMANN, C. P. Genomic Imprinting: genetic mechanisms abd phenotypic consequences in Prader-Willi and Angelman syndromes. Genetics and Molecular Biology, v. 23, n. 4, p. 715-724, 2000. MARIS, A. F.; TROTT, A. A patogênese genética e molecular da síndrome de Angelman. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 60, n. 4, p. 321-330, 2011. PASSONE, C. B. G. et al. Síndrome de Prader Willi: o que o pediatra geral deve fazer – uma revisão. Revista Paulista de Pediatria, v. 36, n. 3, p. 345-352, 2018. PEREIRA, G. C. F. et al. Síndrome de Prader-Willi nos gêneros feminino e masculino: relato de dois casos. Revista Ceciliana, v. 1, n. 2, p. 71-75, 2009. SADLER, T. W. Langman Embriologia Médica. 12ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
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